Dia de Nossa Senhora dos Prazeres: mais que especial para mim...
Entrei na Catedral Metropolitana de Maceió pela primeira vez, em 1996. Tinha, então, apenas nove anos... A memória é traiçoeira: esfuma acontecimentos, burla as lógicas de "começo, meio e fim", mas não apaga o que nela foi registrado pelo Amor! Era a Missa de Ação de Graças pela formatura da turma de Direito, da qual minha irmã mais velha fazia parte. Minha mãe colocou um dos meus vestidos de festa preferidos e lá fomos nós...
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Inicio da Missa de Formatura da minha irmã Gizele Jane Gondin Cavalcante |
Lembro que a escadaria era para mim um desafio, mesmo com ajuda, mas a noite era bonita e importante demais para que eu me fizesse caso dessas miudezas; minha mana, que eu admirava quando via estudando aquela pilha de papéis com letrinhas minúsculas, agora se formava, era a estrela da festa: eu vi uma estrela brilhar! E o que são degraus quando se deseja alcançar um brilhante do céu?
Meus olhos de criança contemplavam, maravilhados, aquela fachada, parecia-me um castelo de princesa... Entrei. Os anjos no teto, os quadrados pretos e brancos no chão, o tapete vermelho estendido, todas aquelas figuras cheias de luz, cor e sorrisos, fizeram-me sorrir também e, embora, fosse apenas uma pequena menina em meio a algo tão grande, senti-me amada, acolhida pela presença e a beleza de Deus, nas pequenas e grandes coisas.
Sentamos. Tomei coragem e cutuquei minha mãe: "- Mainha, um dia eu quero me casar aqui. Sinto uma paz tão grande aqui dentro!"
"- Tá bom, tá bom, quando chegar o tempo a gente pensa nisso... Agora se aquiete que a missa vai começar. Sabia que a catedral é do século passado e que sua Vó Rosiete foi batizada aqui?"
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A senhora Rosiete Guimarães Carôla, minha avó materna, aos 20 anos, em 1948. |
Desde muito criança, sou fascinada pelas referências ao século XIX. Pronto! Estar ali dentro e descobrir a "idade" da igreja me deixaram mais encantada do que se ganhasse uma viagem à Disney. Pus o olho em tudo, tentei registrar cada detalhe por meio dos sentidos.
Preciso dizer também que herdei da minha avó Rosiete o meu segundo nome. Não a conheci, morreu aos 35 anos. Receber o nome dela, assim como o da minha avó Luiza, é a herança mais linda que tenho, mais valiosa também, visto que ninguém poderá tomá-la de mim. As marcas subjetivas de mulheres firmes e determinadas como eu gostaria de ser!
Duas razões singulares, lindas, fortes e só minhas, que foram suficientes para eu "encasquetar" uma ideia no coração e na cabeça: "Se for da vontade de Deus, vou me casar aqui! Terei meu dia de 'moça de antigamente' e ainda posso fazer minha mãe ficar feliz por ver um pouco da mãe dela em mim, andando, rindo e amando".
Chegara a hora da benção das rosas. Os formandos recebiam uma e tinham que entregar a alguém muito importante e muito amado. Meu pai e minha mãe estavam ali, mas fui eu quem recebeu o presente ! A estrela me deu uma rosa, dentro daquele castelo de paz... Só tinha nove anos, mas descobri ali o que era ser importante! Na casa do Senhor, sob os olhos Dele e de Maria, Nossa Senhora dos Prazeres! Nas aulas de catequese nos disseram que ela recebeu esse título em homenagem às alegrias de receber o anjo e ser mãe do menino Jesus! Naquele dia me senti alegre e amada como ela!O tempo passou, eu nunca esqueci...
Cada vez que passava por ali, o coração aquecia de novo, eu sorria, só ria em silêncio! Deus e sua
mãe se lembrariam do meu sonho na hora certa, tão distante em meio à lutas, descobertas e buscas nem sempre tão prazerosas! Conforme deixava de ser aquela menina de vestido azul, percebia que teria de superar inúmeras outras "escadarias"antes de alcançar e cultivar outras estrelas! Vivi, da melhor maneira que pude, cada degrau, aprendendo a perceber Deus nas pequenas coisas, a aceitar minhas singularidades e possibilidades, buscando criar a partir delas. Na "dor e delícia" do autoconhecimento, outra cor, luz e sorriso chegaram, com simplicidade, amor e constância!
Maciel me pediu em namoro, depois em casamento... Conversamos sobre onde poderia ser. Contei do meu amor pela igreja da Rua do Sol, que chamei simplesmente de Catedral. Entramos em acordo, seria lá, se houvesse oportunidade. Alguns dias depois, ele me ligou dizendo que, a caminho da Receita Federal ou da Secretaria da Fazenda (não me lembro), passara por uma capela bonita, tão bonita "que tirei uma foto. Olha no teu e-mail. O taxista me disse que era a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres. Gostei daquela, mas você já escolheu a outra...".
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Foto que meu noivo tirou para mim quando viu a igreja pela primeira vez. |
Lembrei daquela noite, daquela rosa, daquele amor e paz de outrora. E a alegria de Nossa Senhora dos Prazeres e seu Menino me tomaram de novo! Abri o email e respondi a Maciel: "Amor, a Catedral é a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres!". Providência cheia de beleza ante dois corações que pulsam juntos...
E em 30 de Abril de 2014, sob uma chuva torrencial, nossa data passou a constar nos livros da paróquia da igreja do século XIX: a moça de antigamente andará, rirá e continuará amando...Hoje, no dia de Nossa Senhora dos Prazeres, essas memórias de amor fizeram renascer em mim a gratidão por toda uma vida de descobertas!
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